Ela estava na parada de ônibus, mais duas pessoas havia. Sua mãe e uma desconhecida. Esperavam o circular no meio da áspera manhã, quentíssima e preguiçosa. Avistaram tentando subir na parede uma barata muito preta e cascuda, feito um besouro mais desajeitado. Caía virada, a espernear, a barata. Uma, a desconhecida, disse: que barata grande. Outra, a mãe, comentou: é mesmo. A outra outra, que era ela, emendou espantalhada: ela é do tamanho de um cachorro! E era. Sabe-se lá por que as umas assim não viam.
A barata era do tamanho de um cachorro. Não lhe puseram coleira, continuaram a esperar. O inseto levantou voo hábil, melhor do que sabia andar com aquelas cascas e embaralhapernas. Avermelhou-se quando voando se tornou translúcida, na reduzida densidade do voo. Ameaçadora, demonstrando toda a sua ruivez, era voadora, do tamanho de um urubu.
As duas umas nem davam por isso. Para elas mesmas era somente uma barata grande sem nenhuma especialidade. Para a mais outra, ela – com os braços se protegia.
Será que o medonho medo transmitia tanto poder à barata que só para ela o inseto crescia monstro? Era isso mesmo. Sim. Foi um sonho professor de desfazer autofeitiço.
Ela pegou na bolsa uma lente que levava para minúsculas leituras e olhou através, no diminuto, no revés, a baratona – que caiu redemoinhada, embaralhadinha e pequena. Agarrou o inseto com uma pinça e o guardou sem esperneio numa caixa de fósforos.
*inspirada num sonho dormido, numa preta velha, em Jorge, em Tuca, em Mai, em mãe, em Rosa, em Mia.